Saturday, June 16, 2007

reconstrução histórica

Para mim o mundo é uma espécie de enigma constantemente renovado. Cada vez que o olho estou sempre a ver as coisas pela primeira vez. O mundo tem muito mais para me dizer do que aquilo que sou capaz de entender. Daí que me tenha de abrir a um entendimento sem baías, de forma a que tudo caiba nele.

José Saramago, O Jornal, Janeiro de 1983





no contexto blá blá

er o Memorial, as digressões do autor e as inquietações de suas personagens é, muitas vezes, ler os dias atuais e as nossas inquietações.

Logo, Saramago vale-se do outro, o Barroco, para dizer o este, ou seja, o presente.

Através de um texto plurissignificativo, com traços construtivos de procedimento alegórico benjaminiano, a realidade, no Memorial, é desmontada e reduzida a fragmentos e cada um destes fragmentos pode receber uma nova significação.

Esta disjunção entre o significado e o significante, entre o conteúdo que se expressa e a forma como se apresenta, é característica do procedimento alegórico. Para Benjamin, este procedimento poder ser entendido, e para Saramago ele pode ser utilizado, como expressão semelhante à linguagem e à escrita.

Em virtude desse procedimento é possível entender o Memorial como uma multifacetada representação do que é opressão e do que é busca da liberdade. Uma liberdade material e espiritual que se encontra idealizada em todas as épocas e que, em particular, no Memorial, permeia a vida de um corpus que, tipologicamente escolhido, representa toda uma sociedade, toda uma época.

Com o encontro de Baltasar e Blimunda o autor finaliza a narração. Porém, é então que, no íntimo do leitor, a história começa.



SARAMAGO, José, (1999). Memorial do Convento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.

Thursday, June 14, 2007

RUMO AO FAROL

Esta é a terceira vez que leio "to the lighthouse" da inglesa Virginia Woolf (1882 - 1941), considerado um dos clássicos da literatura moderna do século XX. Lembro que na minha primeira leitura, durante a adolescência e por recomendação de meu pai, não entendi absolutamente nada, o que era um fato bastante comum nos livros que ele recomendava. Hoje, passados alguns anos, avalio que devo ter chegado a 30% de aproveitamento. Quem sabe (tomara) ainda terei tempo para uma quarta tentativa.

A técnica utilizada neste romance é baseada no "fluxo de consciência" dos personagens, considerando também uma estrutura narrativa simultânea o que permite pontos de vista diferenciados e sequências de tempo alternadas (tempo psicológico). Os diálogos são poucos e simples, toda a ação ocorrendo portanto nas reflexões e sentimentos dos protagonistas o que leva a abordagens e significados diversos.

A linha de enredo é dividida em três etapas distintas. Na primeira, a família Ramsey recebe alguns convidados em sua casa de praia. Nesta fase, antes da primeira guerra mundial, vive-se uma atmosfera de felicidade ingênua na família. A Sra. Ramsey é o centro das atenções e a protagonista principal.

Na segunda etapa (durante a guerra) que é muito breve, a casa está vazia e prepara-se a transição para a terceira e última parte do romance que ocorre dez anos depois, após a morte da Sra. Ramsey e o término da guerra. Nesta fase final, ocorre o passeio de até a ilha do farol com os remanescentes da família em um clima de extrema melancolia.

literatura inglesa. George Orwell - 1984

ECOS DA LITERATURA INGLESA NO TRABALHO DE PAULA REGO

Paula Rego define-se como uma contadora de histórias, facto realmente visível através de toda uma estonteante intertextualidade capaz de abraçar campos vastíssimos que se estendem da literatura a expressões artísticas mais pictóricas. “Para pintar é preciso uma história”[1], diz a artista, facto sublinhado por Agustina Bessa-Luís no seu livro As Meninas (2001): “o desenho de Paula Rego é uma escrita”. No seguimento desta observação pode ter-se em conta Stephen Spender: “No decorrer do seu trabalho, os pintores aplicam e exercitam algumas das qualidades essenciais à boa escrita. Para além das mais óbvias, como o poder organizador da imaginação visual, observam (segundo a designação de Blake) o peculiar de cada instante (“Painters as Writers”).

Ao longo deste ensaio irei concentrar-me nos quadros de Paula Rego directamente influenciados por obras da Literatura Inglesa, num universo que se estende desde as canções de embalar até Thomas Hardy, J. M. Barrie, George Orwell, Jean Rhys ou Blake Morrison.

A dimensão política visível nos primeiros trabalhos de Paula Rego

Apesar de não se considerar uma pintora política[2] é visível todo um compromisso político no seu trabalho, facto mais do que flagrante em The Prole’s Wall (1984) – exposto em Lisboa, na Fundação Gulbenkian – baseado no romance de George Orwell Mil Novecentos e Oitenta e Quatro (1949). O quadro foi encomendado para uma exposição no Camden Arts Center em Londres, no ano de 1984.

Na sua distopía Orwell dramatiza os perigos do totalitarismo, produzindo simultaneamente um comentário acutilante à situação política da Europa não perdendo de vista a Alemanha Nazi, a Rússia e ainda algumas das ainda vigentes ditaduras europeias da época: a Espanha de Franco ou o Portugal de Salazar. Na verdade, Paula Rego teria já dado liberdade à sua expressão de rejeição perante o regime Salazarista no quadro Salazar Vomita a Pátria (1960).

Em The Prole’s Wall, o elemento pessoa aparece representado através de animais domesticados, criaturas sub-humanas subjugadas pelos seus donos. São proletários, como o próprio nome do quadro indica, representados como no livro de Orwell como uma classe sem posses. John McEwen explica que quando Paula Rego “começa a pensar nas imagens visuais relacionadas com a história de Orwell, lhe ocorre que esta classe proletária ao não saber escrever, por lhe ter sido negado o acesso à educação, encontra no desenho um veículo primário de expressão”.

Winston Smith, protagonista do romance de Orwell, funcionário do Ministério da Verdade (que corresponde na verdade ao Ministério da Mentira), é representado por Paula Rego como um urso de peluche, enquanto que O’Brien (a personagem que trai Winston e Júlia) é representado como um urso. Por sua vez, Júlia aparece como um cruzamento entre uma boneca e uma mulher. Existe entre Paula Rego e o autor de Mil Novecentos e Oitenta e Quatro uma partilha de cariz satírico no uso e representação de animais com intuitos políticos. Em Animal Farm (1945), uma fábula satírica sobre a Rússia Revolucionária e Pós-Revolucionária e sobre as revoluções em geral, Orwell transforma o porco num líder capaz de expulsar humanos para fora da quinta. Paula Rego descreve o porco como um dos seus animais preferidos.

Ambos partilham um compromisso de forte criticismo político para com a situação da Espanha dominada por Franco. Em Homage to Catalonia (1939), Orwell descreve a Guerra Civil Espanhola como a experiência política mais importante da sua vida.

Os quadros Iberian Dawn (1962) e Stray Dogs (The Dogs of Barcelona) (1965) criticam fortemente as ditaduras em Portugal e Espanha. John McEwen explica a génese de Stray Dogs: “Houve um relatório publicado no The Times que explicava o método usado pelas autoridades de Barcelona para se verem livres dos diversos surtos de cães vadios, método esse que consistia na distribuição de carne envenenada. Em The Dogs From Barcelona Paula Rego elabora uma espécie de equação entre a brutalidade desmedida desta decisão e tantas outras directivas igualmente duras tomadas pelas autoridades representantes das ditaduras de Portugal e Espanha”. Alberto de Lacerda também destaca a faceta ideológica e intervencionista de alguns dos trabalhos da pintora dizendo: “mesmo quando remetidos para experiências e cenários mais do domínio privado revelam um imensa revolta moral, social e política. É o caso dessa obra prima intitulada Stray Dogs. O quadro em questão (onde aparece a palavra Franco) começou por se chamar The Dogs of Barcelona, sendo posteriormente renomeado com o intuito de evitar problemas com os fascistas Portugueses” (McEwen, 77, 83).

Wednesday, June 13, 2007

Saturday, May 26, 2007

JOSE SARAMAGO





Memorial do Convento

"Era uma vez um Rei que fez a promessa de levantar um convento em Mafra.
Era uma vez a gente que construiu esse convento.
Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes.
Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido.
Era uma vez."
in Memorial do Convento, 22ª ed., Lisboa, Editorial Caminho, 1994.

" O Memorial do Convento é uma reconstrução histórica a partir da ficção literária, porque toda a narração está fundamentada no passado para compreender o presente."
Jornal de Letras, Lisboa, ano V, nº 190 de 25 de Fevereiro a 3 de Março de 86.


Memorial do Convento serviu de base a uma ópera, Blimunda, com música do italiano Azio Corghi, estreada em Milão em 1990 (em Portugal, em Maio de 1991) e serviu de tema a um debate realizado em Itália: Viaggio interno al Convento di Mafra, moderado por P. Ceccucci, Guerini, Milão, 1991.





- Na história, a importância máxima do rei e da rainha está centrada na da necessidade nacional em produzir um herdeiro.
- Pelos fluxos de consciência, o narrador envolve o leitor nos quados históricos, se esquecendo da ficção.
Saramago vai combinando elementos e ambientes e vai criando uma releitura do passado histórico em meio de uma ficcão. Dá uma característica barroca ao romance, mostrando dualidade de comportamentos da Corte e da Igreja e o sofrimento do povo, que percebe as injustiças sociais.
....... Ele usa também a dualidade barroca em confrontos como da passarola e a pedra gigantesca que centenas de homens arrastam para a construção do convento. Opõem- se a leveza, vôo, sonho, liberdade, etc a peso, imobilidade, escravidão, sofrimento, doença e outras coisas que caracterizam a construção do convento.

A importância desse livro fica assim, quase mais do que um documento histórico, porque sem negar a história, mostra o que foi escondido nos relatos de Portugal. É considerado por alguns críticos como romance de metaficção historiográfica.

É um romance de leitura atenta e subjetiva que através do humor e ironia vai provocando uma aproximação da história de uma forma crítica, pois na medida em que vai problematizando as situações, vai automaticamente discutindo os elementos descritivos. E muito interessante é que o narrador não omite os acontecimentos históricos.

Saramago introduz elementos novos e maravilhosos na narrativa. Os personagens que ele introduz vão representar as figuras das mudanças futuras, o contraponto entre o acontecido e a reflexão que se pretende.


(acrescentar na foto)


Vai dessacralizando o passado e por meio de recursos expressivos, usando humor e ironia, dá ao romance extrema originalidade e possibilidade de se questionar a história real.:





Blimunda e Baltasar constituem parte da ficção do romance, ao lado de Padre Bartolomeu de Gusmão, juntos estes formam a Trindade Terrestre. A primeira personagem, figura mítica, humana, mas que deveria pagar pelo erro de ter nascida de uma mãe com poderes metafísicos; Baltasar , que teve sua mão perdida em favor da pátria e não ficou contente com isso...; Padre Bartolomeu, com um sonho de construir uma máquina voadora. Tudo isso em meio a um ambiente de tramas e conflitos envolvendo os nobres e o clero, no domínio e no contraponto, os trabalhadores, dominados, descontentes.

Há um triângulo central formado pelos personagens do romance e Padre Bartolomeu representa a figura central. O padre convence Baltasar a participar do projeto de confecção da passarola e dá à Blimunda condições para aplicar o dom de magia de que ela era possuidora na construção da mesma. Por ser liberal, o padre foi perseguido pela Inquisição, sob a alegação de que nutria simpatia por cristãos-novos. Para não ser preso, apressou a estréia de seu invento, provando sua eficácia ao voar até as proximidades de Mafra; a seguir fugiu para a Espanha, onde teria morrido num asilo de loucos.
Domênico Scarlatti, outra figura histórica, foi compositor italiano, com a música de seu doce cravo, Scarlatti, pelas mãos de Saramago, consegue curar Blimunda de uma enigmática doença, possibilitando que ela continuasse a dar sua imprescindível contribuição ao projeto da passarola.
Mutilado na guerra pela sucessão do trono espanhol, em um conflito que não tinha nada a ver com Portugal, Baltasar Mateus, o Sete-Sóis, é um camponês que encarna o protótipo do pária social. Participa da sociedade apenas enquanto serve como instrumento de manipulação de uma elite inconseqüente. Sua marginalidade manifesta-se tanto na condição de ex-soldado como na de "boeiro", único ofício que sua limitação física permitia desempenhar, conduzindo carros-de-boi durante a construção do convento de Mafra. Nos intervalos, Baltasar integrava o grupo que construiu a passarola, desempenhando com habilidade e competência a função que lhe fora atribuída pelo padre Bartolomeu.




A parte histórica do romance, entre ambientes e feitos intencionalmente relatados, estão o rei D. João V, a rainha Maria Ana, por ocasião da construção do Convento de Mafra, história da guerra da sucessão ao trono da Espanha e flashes da Inquisição. Nesses episódios, o autor revela num estilo entre o irônico e o humor, fatos que a história não contou e com isso faz com que o leitor mergulhe mais na história do que na ficção e com isso ele vai documentando uma fatos e situações do século XVIII:

Coloca D. João V brincando de armar uma miniatura de São Pedro de Roma, sem nenhum esforço físico, " El-rei tem na sua tribuna uma cópia da Basílica de São Pedro de Roma que ontem armou na minha presença". O autor ironiza a figura do rei e questiona o fato de D. João V ter entrado para a História como o construtor do convento de Mafra.
Ridiculariza a figura da rainha D. Maria Ana ao apresentá-la ocupante de uma cama infestada por percevejos, "Em noites que vem el-rei, os percevejos começam a atormentar mais tarde por via da agitação dos colchões...lá na cama do rei estão outros à espera do seu quinhão de sangue...".

É difícil dizer o que é mais interessante no livro. O narrador usa fluxos de consciência induzir a visualização dos cenários, usa a personagem Blimunda, muitas vezes através de sua vidência, como seu porta-voz:
Tal como nós não sabemos bastante quem
somos, e, apesar disso, estamos vivos, Blimunda,
onde foi que aprendeste essas coisas, Estive de olhos
abertos na barriga da minha mãe, de lá via tudo.
(p.289)


Blimunda fala dos piolhos que cata nos cabelos de Baltasar, no mau cheiro e sujeira de Lisboa, nos percevejos... Com isso o autor vai mostrando e comparando, através de Blimunda, a existência do poder natural do homem, a força da vontade. – Nesse sentido, o romance tem uma colocação muito interessante: Blimunda é vidente e consegue reconhecer e recolher vontades; estes fragmentos, reunidos, vão dar força a quem os têm para vencer a condição de subalternidade.

No plano de expressão uma oralidade que lembra as antigas epopéias.

é o (des)uso da pontuação normativa, ou seja, substituindo pela vírgula e ponto-final todos os outros sinais de pontuação, o autor consegue "destravar" o texto e permitir ao leitor uma maior participação na leitura à medida que este se vê, a todo momento, colocando travessões, pontos de interrogação e de exclamação, aspas e todo o mais que incorra a uma melhor intelecção do que está sendo lido.


Usa também um estilo sem muita pontuação, com parágrafos longos com sensações de fluxos de consciência.

em MC, as trangressões ocorrem tanto no nível do....

Excertos da obra, comparados com fatos históricos de Portugal

- A construção de um convento em Maffra e a infertilidade da rainha:
(..) dona Maria Ana Josefa, que chegou há mais de dois anos da Áustria para dar infantes à coroa portuguesa e até hoje não emprenhou, (...)

- O comportameto do clero:
(...) a fé não tem mais que responder, construa Vossa Majestade o convento e terá brevemente sucessão, não o construa e Deus decidirá.(p.11)

- As festas religiosas em Portugal promovia uma euforia coletiva. Davam vazão aos desejos recalcados do povo:
“ Mas esta cidade, mais que todas, é uma boca que mastiga de sobejo para um lado e de escasso para o outro, não havendo portanto mediano termo(...) Porém, a Quaresma, como o sol, quando nasce, é para todos. (p.25)”

- A relação entre Baltasar e Blimunda, em comparação com o casal real, é fundamentalmente transgressora: à guisa de casamento, o que os uniu foi o simbolismo de uma colher compartilhada ..
(...) e... esperou que Baltasar terminasse para se servir da colher dele,...
era como se ...Aceitas para a tua boca a colher de que se serviu a boca deste
homem,.... (p. 49)
...........
Entraram com el-rei dois camaristas que o aliviaram das
roupas supérfluas, e o mesmo faz a marquesa à rainha,
de mulher para mulher, com a ajuda doutra dama, condes-
sa, mais uma camareira-mor não menos (...)

- A condição de maneta também é discutida por Padre Bartolomeu que, no Memorial, iguala, hereticamente, Baltasar a Deus, quando argumenta que:

...maneta é Deus, e fez o universo ... que está a dizer, padre Bartolomeu Lourenço, onde é que se escreveu que Deus é maneta, Ninguém escreveu, não está escrito, só eu digo que Deus não tem a mão esquerda, porque é à sua direita, à sua mão direita, que se sentam os eleitos, não se fala nunca da mão esquerda de Deus, nem as Sagradas Escrituras, nem os Doutores da Igreja, à esquerda de Deus não se senta ninguém , é o vazio, o nada, a ausência, portanto Deus é maneta. Respirou fundo o padre, e concluiu, da mão esquerda. (Saramago, 1999, p.65)

5. Os excertos metafóricos e as possibilidades alegóricas

No Memorial do Convento, o narrador, sugestiona o leitor a visualizar
A transgressão do discurso

A dicotomia do ver e do olhar instaura-se aí numa amplitude que se estende à totalidade do romance e antecipa o seu desenvolvimento em romances posteriores.

(...) porque este é o dia de ver, não o de olhar, que esse pouco é o
que fazem os que, olhos tendo, são outra qualidade de cegos. (p.70)

Logo, é possível verificar no Memorial que o trabalho conferido à linguagem é utilizado não para alcançar simplesmente efeitos ornamentais, mas sim para comprometer o romance com a estética que o orienta.

O romance preenche as lacunas da história é a maneira pela qual o padre convence Baltasar a ajudá-lo. Ele utiliza o texto bíblico no seu discurso de convencimento. (p.59)

Queres tu vir ajudar-me, perguntou. Baltasar deu um
passo atrás, (...) sou um homem do campo, ... e assim como me acho, sem esta mão, ...
Com essa mão e esse gancho ...e há coisas que um gancho faz melhor que ... e eu te digo que maneta é Deus, e fez o universo (...). (p.59)

Desde o século XVII os franciscanos tentavam arrecadar fundos para a construção de um convento na vila de Mafra. A oportunidade vem quando, após três anos de espera infrutífera, o rei aceita a sugestão de Frei Antônio e decide mandar construir o convento caso Deus permita que lhe nasça um herdeiro:
(...) a fé não tem mais que responder, construa Vossa Majestade o convento e terá brevemente sucessão, não o construa e Deus decidirá. (p.11)

(...)que a rainha, provavelmente, tem a madre seca(..) insinuação muito resguardada de orelhas e bocas delatoras (..) a culpa ao rei, nem pensar, (..) a esterilidade não é mal dos homens, (p.9)

2.1 A trangressão do poder:
O arrebanhamento dos homens para a construção do convento, a fim de concretizar o sonho do rei:
Deve-se a construção do convento de Mafra ao rei D.

João V, por um voto que fez se lhe nascesse um filho,

vão aqui seiscentos homens que não fizeram filho

nenhum à rainha e eles é que pagam o voto, que se

lixam, com o perdão da anacrônica voz. (p.224)
Um outro dado importante para a dinâmica do romance é a Guerra de Sucessão pelo trono espanhol. É nela que Baltasar perde a mão esquerda, sendo por isso dispensado do exército.
(inserir)
Foi acima de tudo uma guerra mercantilista entre potências econômicas pela primazia comercial nas colônias ultramarinas. A ausência de herdeiros detonou a guerra em 1704 e durou oito anos. De um lado a Inglaterra, a Holanda, a Alemanha e Portugal, apoiando o arquiduque Carlos, filho do imperador Leopoldo da Alemanha, do outro os franceses e os espanhóis que tinham a garantia legal de um testamento que dava a Felipe, neto de Luís XIV, o trono vago.

Por fim , o último referente histórico é a própria Inquisição, que além das
heresias, a Inquisição também perseguia a bigamia, a homossexualidade e a magia, tendo muitos inocentes sido supliciados devido à acusação de bruxaria.

O auto-de-fé e suas penas ....

Na procissão semi-orgíaca da Quaresma o êxtase religioso e o erótico confundem-se e excedem-se. Ao mesmo tempo, é através da descrição das festas religiosas que
O narrador relata a hipocrisia, a luxúria e a libertinagem na qual o clero secular e regular vivia em Portugal, usando imagens da procissão da Quaresma misturando a ela o religioso e o erótico.

..............................................PAREI AQUI

















-------------------EXTRAS – CORTES
O romance fica entre a história e a ficção, transformando D.João V e a rainha Ana de Áustria em caricaturas para poder, na edificação de Mafra, elevar um herói colectivo e anónimo – os milhares de trabalhadores e no plano da ficção relata a construção da da Passarola, sonho de Blimunda, Baltasar , personagens ficcionais e Bartolomeu Lourenço, figura histórica do tempo.
Há no romance marcas do discurso oral, jogando com efeitos irônicos e humorísticos e entrelaçando os discursos (como Camões) e muitas vezes se aproxima do estilo barroco.
Ás vezes, ao longo do romance o narrador transveste-se a cronista, volta a narrador, ora como autor-implícito, dando voz aos personagens. Isto torna a obra muito interessante


José Saramago, escritor português do modernismo, prêmio Nobel de Literatura, pela belíssima obra Memorial do Convento, romance contemporâneo, de 1982.

Tornou-se o escritor português contemporâneo mais conhecido no mundo: Memorial do Convento (1982), a Jangada de Pedra (1986), A Jangada de Pedra (1986), O ano da morte de Ricardo Reis (1987) e O Evangelho segundo Jesus Cristo (1991).

Sua experiência literária, ligada inicialmente ao Neo-Realismo, evoluiu progressivamente para o Experimentalismo narrativo, explorando recursos como a intertextualidade e a paródia para promover uma revisão crítico-irônica da História portuguesa e universal. Sua produção parte de contextos que vão desde a Idade Média em Portugal até os conflitos do homem urbano contemporâneo na virada do milênio.

Sua obra leva a uma reflexão sobre temas universais e atemporais, como a dominação ea a manipulacão da política por parte dos poderosos, a participação do povo na construção da História, as barreiras que se opõem aos mais profundos sentimentos humanos, como o amor e a solidareidade, a falta de consciência do homem, sua incomunicabilidade, a solidão, o sentido da vida e da morte.
Homem de esquerda, diferenciava-se sobretudo pela inteligência ágil, instigante, e pelo requintado espírito de urbanidade.



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Friday, May 25, 2007

Literatura Portuguesa_Tesnière

Tesniëre Bla bla

MODERNISMO EM PORTUGAL

Modernismo em Portugal
Movimento que se iniciou no Ocidente, início do século XX, revolucionou conceitos e práticas estéticas em todas as artes -> os grandes avanços científicos e tecnológicos não permitiam mais as manifestações de expressões aristotélicas de mimese. As vanguardas, movimentos que surgiram na Europa sob diversos nomes como futurismo, cubismo, cubo-futurismo, dadaísmo, surrealismo, deram início a essa nova fase artística.
Todas as propostas um pouco diferentes, mas irmanadas na idéia de vanguarda.

Panorama histórico literário
No início do século XX, a Europa estava mergulhada em profundas mudanças que acabaram por revolucionar a vida social, econômica, o cenário político, a compreensão do universo e do homem e consequentemente as realizações artísticas e literárias. Exemplos:
Industrialização/
Crescia vertiginosamente. Intensifica política imperialista (neocolonialismo). Grande influência para eclosão da 1a. Guerra Mundial (1914-18).
Expansão industrial/
Novo perfil à sociedade, criando uma nova e poderosa elite econômica.

26_maio_2007

ALBERTO CAEIRO
(a poesia da sensação)

Poeta-filósofo, que extrai o seu conhecimento não de livros, mas do seu contato direto com as coisas e a natureza. Considerado por F.Pessoa como seu mestre, assim como o de Ricardo Reis e Álvaro de Campos. O poeta considera que o homem complicou as coisas com a metafísica, com as teorias filosóficas, científicas e religião. Para ele, o único meio válido para a obtenção do conhecimento é a sensação e a simplicidade da vida. Observemos fragmentos do poema `Guardador de rebanhos`:

Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos.
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.

Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao compriodo na erva,
E fecho os olhos quentes,

Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.


RICARDO REIS
(o sopro clássico)
Indiferente à vida social como seu mestre, valorizando a vida do campo e simplicidade das coisas, diferencia-se daquele por sentir-se fruto de uma civilização cristã decadente, que inevitavelmente, caminha para a destruição. Sente que o tempo passa e que a morte é inevitável e que nada se pode fazer diante do destino que já está traçado.

JOSÉ SARAMAGO
(a utopia e a crítica à realidade)

O mais conhecido escritor da literatura portuguesa contemporânea. Nasceu em 1922. Em seus livros há uma profunda reflexão sobre temas universais e atemporais, como a dominação e a manipulação pela classe dominante. E parte de contextos que vão desde a Idade Média em Portugal até a problemática do homem urbano contemporâneo na virada do milênio. Aborda a questão da participação do homem na construção da História e dos conflitos íntimos do homem, sua incomunicabilidade, solidão, vida e morte.

A seguir, excertos sobre seu romance Ensaio sobre a cegueira. Esta obra relata que numa determinada cidade, as pessoas, uma a uma, vão ficando cegas, causando assim, a maior tristeza. E a única pessoa da cidade que não perdeu a visão foi a esposa do médico.
O tema do livro de Saramago foi também aproveitado pelo surrealista, Salvador Dali - Cisnes refletindo elefantes.

(VER EPÍGRAFE DA OBRA)/

"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara". (Ver a diferença entre olhar, ver e reparar)