reconstrução histórica
Para mim o mundo é uma espécie de enigma constantemente renovado. Cada vez que o olho estou sempre a ver as coisas pela primeira vez. O mundo tem muito mais para me dizer do que aquilo que sou capaz de entender. Daí que me tenha de abrir a um entendimento sem baías, de forma a que tudo caiba nele.
José Saramago, O Jornal, Janeiro de 1983
no contexto blá blá
er o Memorial, as digressões do autor e as inquietações de suas personagens é, muitas vezes, ler os dias atuais e as nossas inquietações.
Logo, Saramago vale-se do outro, o Barroco, para dizer o este, ou seja, o presente.
Através de um texto plurissignificativo, com traços construtivos de procedimento alegórico benjaminiano, a realidade, no Memorial, é desmontada e reduzida a fragmentos e cada um destes fragmentos pode receber uma nova significação.
Esta disjunção entre o significado e o significante, entre o conteúdo que se expressa e a forma como se apresenta, é característica do procedimento alegórico. Para Benjamin, este procedimento poder ser entendido, e para Saramago ele pode ser utilizado, como expressão semelhante à linguagem e à escrita.
Em virtude desse procedimento é possível entender o Memorial como uma multifacetada representação do que é opressão e do que é busca da liberdade. Uma liberdade material e espiritual que se encontra idealizada em todas as épocas e que, em particular, no Memorial, permeia a vida de um corpus que, tipologicamente escolhido, representa toda uma sociedade, toda uma época.
Com o encontro de Baltasar e Blimunda o autor finaliza a narração. Porém, é então que, no íntimo do leitor, a história começa.
SARAMAGO, José, (1999). Memorial do Convento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.